sábado, 23 de outubro de 2010

Garota de aluguel

O mundo fora de minhas janelas finge estar parado. Quase não escuto o vai e vem dos carros do oitavo andar do apartamento. Meus olhos sonolentos aparentemente ganham vida e levemente se fecham frente ao filme de sábado a noite. Já são quase três da manhã e meu telefone aguarda aflito uma ligação desconhecida. Antes mesmo que perceba, já me deixo levar pelo cansaço e me entrego ao sono profundo. Enquanto estou sonhando, pareço estar livre finalmente de todo mal ou pecado que possa acumular em minha carne, mas antes que termine de sonhar me desperto com o som exorbitante de meu celular tocando em cima da mesinha ao lado da cama. Por um segundo pigarreio e tento disfarçar a voz sonolenta, atendo e fingindo que estava acordada, mas antes que perceba, me desperto para mais um pesadelo.
Me levanto apressada da cama, tenho pouco tempo, porem tempo o suficiente para que possa tomar um banho e fantasiar uma cara melhor. Me visto rapidamente enquanto peço um taxi e termino de me maquiar.
A caminho de meu destino, observo através da janela do carro e tento não dormir. Pego o celular e busco me entreter com alguns jogos sem graça, porem é inútil, acabo ficando com mais sono. Antes que perceba, o taxista para o carro me indicando que já havíamos chegado ao destino final. Entrego o dinheiro da corrida e peço gentilmente ao senhor que fique com o troco. Toco a campainha algumas vezes. A ideia de que não tem ninguém em casa me passa pela cabeça quando finalmente uma voz atende o interfone pedindo para que suba. Entro no elevador e minha consciência narcisista me pede para que retoque a maquiagem e ajeite o cabelo novamente.
Ao chegar, um senhor de meia idade, bem conservado comparado a outros de sua idade abre a porta com um sorriso galanteador. Sua casa é bonita, carrega um toque feminino nas cortinas e na organização geral. Com certeza é casado. Antes que comece, recebo adiantado o dinheiro. O senhor meio constrangido tira rapidamente o valor combinado da carteira e deixa algo a mais como cortesia. Parece estar nervoso, pergunto a ele. Um pouco sem graça, não me contesta e pede para que me sente a mesa e o acompanhe em um copo de wisk. Enquanto bebemos, tenta alguns elogios e se levanta para colocar uma música lenta no som da sala, o que me deixa com mais sono.
Depois da bebida, vamos em direção a seu quarto. Andando pelo corredor, alguns quadros pintados a mão de pessoas que desconheço. Sua casa tem um cheiro bem agradável, o que me confirma a ideia de que ele realmente é casado, mas até o momento não tinha fixado meus olhos em seus dedos a procura do anel. Ele se senta na cama um pouco agitado e pede para que me sente ao seu lado. Vejo que tem um pouco de vergonha, pois não consegue olhar em meus olhos.
Enquanto trabalho, disfarço e observo o relógio. Uma hora demora muito mais quando não fazemos o que gostamos. Por mais que minhas caras e bocas mereçam um oscar como melhor atriz, fico me perguntando se Deus está ali presente naquele momento, por que se estiver, ele não vai me querer ao seu lado no paraíso, pois eu não iria querer. Beijos e abraços no final do serviço não fazem parte do pacote, mas mesmo assim, retribuo o carinho agradecendo a gorjeta no começo da noite. Ao terminar, ele me convida a tomar um banho, mas o filme sem graça que estava assistindo em meu apartamento me parece uma ideia melhor. Procuro meu celular dentro da bolsa e disco novamente ao taxista.
De volta para casa evito pensar no que aconteceu, simplesmente não penso. O banho quente de meu banheiro me da a sensação de limpar qualquer tipo de sujeira de meu corpo e de minha alma. Finalmente deitada em minha cama, ligo a televisão e espero o sono chegar para que me leve de novo a meu particular mundo de sonhos.

Douglas Valério
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Um comentário:

  1. Cara sou seu fã. Você conseguiu ler a mente de uma mulher de programa ou você ja foi uma? Brincadeiras a parte como sempre você me surpreende com seus posts. Ficou muito bom!!! Parabéns!!!!

    Grande abraço!

    Baian0_o

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